As outras crianças podiam brincar, rir, pular.
Eu não.
Minha mãe me considerava uma pessoa doente sem eu nunca ter sido.
Era magrinha demais, esquelética.
Mas isso se devia a alimentação inadequada, ou melhor, a quase falta de alimentação.
A gente só tinha o básico e eu vivia tremula de fome no sentido de não ter nada substancioso para comer.
Só havia chá mate de manhã e aquilo não alimentava.
Só havia pão seco sem nada para acompanhar.
A gente não tinha direito a atendimento médico no antigo IAPI.
Minha mãe vivia pelos hospitais procurando médicos que atendiam indigentes e pessoas sem recursos nenhum.
Ao sair de casa ela me orientava a aceitar ser internada se o médico determinasse isso.
E lá ia eu com o coraçãozinho apertado, morta de medo e em perfeita saúde.
Nunca tinha nada, nem uma dor de cabeça.
E o medo de ser internada assombrou minha infância.
Hoje é difícil até para mim,entender como se cria filhos nessas condições.
Em nossa época isso poderia ser considerado maus tratos.
Inadmissível apavorar uma criança com a ideia de ser internada meses a fio sem nenhuma doença.
Minha mãe queria que os médicos me internassem por uns três meses para eu ficar "forte".
Pedia isso nas consultas e os médicos nem respostas davam.
Na verdade ela era uma pessoa sem recursos financeiros e sem cérebro para pensar!!!
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