Muitas vezes durante os 38 anos que convivi com meu pai eu tentava conversar com ele.
Nunca consegui!
Ele se sentava na sala e discorria longamente sobre qualquer assunto.
Era um monólogo solitário.
Eu nao podia opinar.
Se abrisse a boca para comentar algo ele ja se estressava e dizia:Eu nao sei nada,você é que sabe tudo!
E encerrava ali qualquer possibilidade de diálogo.
Mulher nao devia opinar em assunto nenhum.
Tinha que ouvir e só.
Muitas vezes falando de religião ou sobre a Bíblia o assunto fugia completamente daquilo que estava escrito.
Eu tentava explicar que a visão era outra e ele já virava no cão.
Se ele estava dizendo eu tinha que acatar em silêncio e aprender com ele.
Se estava certo ou errado nao importava.
Eu tinha que ficar calada ouvindo o monólogo interminavel e só.
Eu teimosa que sou, discordava.
Era motivo de briga.
Minha mãe desesperada porque "sabia o papel da mulher" corria para longe,juntava as mãos em oração e falava: Senhor,fecha a boca da Eva!!!
Para ela trocar ideias era faltar com o respeito no papel que ela aprendeu:
De ser cordata e submissa,sem se importar com o teor da conversa.
Era para fazer o papel de mulher e baixar a cabeça em silêncio .
Mulher na casa de meu pai nao tinha que achar nada!
Ele achando isso ou aquilo era o suficiente.
E assim perdemos a chance de conversar,trocar opiniões,ser amigos.
E nesse desencontro de hábitos e educaçao a morte chegou inesperadamente para ele num acidente em casa.
E eu nunca pude ser a filha que eu queria ser.