quarta-feira, 30 de outubro de 2013

CRIANÇA TRISTE E SOLITÁRIA


       

Me lembro de uma menina feia.
Muito magrinha, dentuça..
Sem nenhuma alegria e vivacidade.
De manhã saia de casa, aos 9 anos, acompanhando o pai à pé.
Andava quilômetros sempre atras do pai, sem coragem de dizer nada, sempre submissa.
Quilômetros depois e muita canseira, passando pela feira livre e comprando laranjas, lá vai a menina tropega.
A cesta era pesada demais, a caminhada extenuante, apesar de carregar poucas laranjas ali, a idade e a fragilidade não ajudava em nada.
O pai na frente empurrando o carrinho de sorvete com outra cesta em cima.
Os dois eram a imagem da pobreza e da falta de dialogo.
Vez ou outra o pai se voltava e dizia: Está morrendo? Ande de vez, você não consegue carregar meia duzia de laranjas?
Não, a menina mal conseguia andar depois de um café da manhã apenas de chá e pão seco.
E a longa caminhada...
Para quem conhece, saindo do bairro Barcelona, seguindo em direção ao Cemitério da Saudade e depois Santa Rosália e finalmente a antiga Metalúrgica N.S.Aparecida, hoje desativada.
Era uma caminhada sem precedentes para uma criança de 9 anos, mal alimentada.
Depois o dia todo naquele sol parada em frente à fábrica onde o pai fazia ponto na venda de sorvetes.
Os pés imundos naquela poeira preta procedente da fábrica.
Às 15 horas mais uma caminhada até a Estação Ferroviária onde novamente o pai parava para esperar os passageiros no trem da tarde e vender seus sorvetes.
À tarde extenuada com apenas um lanche de pão e ovos fritos a menina finalmente conseguia pegar o bonde que a levava a uns dois quilômetros ,ou menos, próximo de sua casa.
Pronto, finalmente ela poderia descansar depois de lavar a louça do jantar que sempre era às 5 horas.
Não era uma vida glamourosa, era uma vida triste.
Nem na escola a criança ia, os pais não achavam necessário estudar.

Para quem não sabe: Essa criança era EU!!!



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