Nos anos 60 eu era uma criança muito pobre e limitada.
Nao podia nada.
Vivia reclusa em casa e só saia para cumprir "obrigações".
Uma dessas obrigações era levar o almoço para meu pai.
Aquele dia ele estava fazendo ponto na Estação Ferroviaria.
Era sorveteiro!
Eu peguei o "imborná" com o "carderão" de comida e fui para a estaçao do bonde na Parada do Alto.
Estava lotada a estação de crianças que iam para a escola.
Eu nao podia frequentar escola "porque já sabia escrever o nome".
Quando o bonde chegou,aquele tumulto de crianças e eu alcancei a porta do bonde.
Uma menina negra me empurrou e me deu uma terrivel mordida no braço.
Cortou a pele!!!
A dor era insuportável.
Como mordida humana dói!!!
Eu fui levar meu almoço segurando as lágrimas em silêncio.
Cheguei no local,entreguei o "imborná" e voltei para a Estaçao Paula Souza esperar o bonde que me traria de volta.
Pedi a meu pai que me desse um sorvete.
Vim embora fazendo compressa com aquele sorvete até que derreteu totalmente.
Meu pai nem ficou sabendo da situaçao.
Só em casa eu dei vazão a minha dor física e moral.
Me senti muito injustiçada por ser atacada daquele maneira.
Eu jamais teria essa atitude sem motivo!
Aquela menina de maus bofes morreu muito cedo.
Entregue as drogas e a bebida.
Coisa nada comum na minha época!!!
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