Eu morava com o cego louco e trabalhava no Jardim Maria do Carmo.
Saia do trabalho as 17 horas.
Tomava um ônibus lá e chegava no Termibal exatamente no horário de saida de meu ônibus.
Muitas vezes perdia.
Ou o ônibus já estava saindo ou nem estava mais no ponto.
Eu tinha que esperar o próximo.
Se pegasse aquele ônibus chegava em casa 18h15,se perdesse chegaria 18h40.
Quando perdia encontrava o cego louco no portão.
Ele tinha um maldito relógio que falava as horas.
Odiava aquele relógio.
Ele controlava cada minuto por ali.
Eu chegava 18h40 e encontrava ele alucinado querendo saber o que fiz entre 18h15 e 18h40.
Nunca acreditou que eu precisei esperar o próximo ônibus.
Hoje sei que o problema maior ali era eu que trabalhava tanto e me submetia a tudo.
Por fim abandonei o emprego e fiquei em casa prisioneira com ele.
Parei até de atender o portão porque nao era permitido.
Ele exigia que eu ficasse dentro de casa se alguém chamasse.
Eu tinha que esperar ele atender e resolver.
E ele nao conhecia as pessoas porque era estranho ali e nao me deixava falar com ninguém.
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