sábado, 7 de maio de 2022

Perigo

 Quando eu tinha meus 8 ou 9 anos tinha uma dor de dente insuportável.

Aquilo me deixava desorientada.

Doia o rosto todo sem trégua.

Eu não falava sobre isso para meus pais porque morria de medo de ir ao dentista.

Tinha momentos tão desesperadores de dor que eu me deitava e chorava muito.

Ouvia minha mãe comentando com as tias que era problema mental,nervos.

E ficava revirando os olhos dizendo: O que eu faço nessas crises?

Não era essas as palavras mas era isso que ela pensava.

Ficava aflita porque eu não conseguia parar de chorar.

Me arrastava da cama onde eu estava apertando o rosto no travesseiro tentando conter aquela dor terrível ,lavava meu rosto,penteava meus cabelos e mandava eu ir visitar dona Maria.

Na visão dela para acalmar os "nervos"

Eu saia desorientada trincando de dor.

Para chegar na casa da mulher eu tinha que pegar um trilho deserto no meio do mato,subir o morro sozinha para sair na Parada do Alto.

E lá ia eu naquele local deserto chorando de dor.

Muitas vezes naquele matagal encontrei homens sozinhos que também utilizavam o trilho para cortar caminho.

Naquela época ninguém pensava nos riscos que uma criança corre sozinha num local ermo.

Eu pegava o trilho que cortava pelos fundos das residências e pegava aquele morro.

Fosse hoje eu teria sido estuprada ali por passar tantas vezes totalmente desprotegida.

Trabalhei muito quando criança vendendo verduras e ali também era meu caminho da roça para chegar no outro bairro.

Voltava sozinha também com minha cesta e o dinheirinho das vendas.

Nunca fui roubada ali!

E por anos eu enfrentei aquele trilho sem nunca ter problema nenhum.

Nos anos 60 ninguém pensava em violência!!!


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